domingo, 28 de março de 2010

Experimentos


Experimentando, 2009, giz pastel oleoso s/papel

Volta e meia me pego desenhando em pequenos pedaços de papel. Este aí é uma dessas  experimentações, o que era para verificar algum efeito com o giz pastel oleoso se tornou um desenho de verdade. Ficou bom.
Aproveitando um recurso do editor de imagem, apaguei o registro da borda recortada a poucos milímetros em toda a volta do desenho. Isso mesmo, cortada com tesoura a tal borda. Não me pergunte por que fiz, qualquer resposta não justificaria que eu tenha feito o desenho num pedaço de papel tão pequeno ou reutilizado um, ou seja, usar um papel cheio de testes de cor, de técnicas, desenhos que não deram certo etc., e ter de recortar para tirar algo que atrapalhava a imagem. (O papel, deixe que esclareça, trata-se de um Fabriano 5, pois os testes são realizados sobre o papel em que os desenhos serão feitos. Não é papel de rascunho, de esboço, não!)
Na verdade não adianta me recriminar agora, está feito e mais: não foi a última nem a primeira vez que algo assim aconteceu e me deixou maluca comigo mesma. Parece que os pequenos papéis atraem boas imagens; se paro para pensar, alguns dos meus melhores desenhos nessas condições surgiram sem uma pré-elaboração, esboços, estudos e uma quebrada de cabeça sobre as cores. E nesses cantinhos de papel.
Neste uso muito grafite, é uma elegia ao material, até porque uso poucas cores.
Tenho uma predileção por objetos isolados, raramente vão ser vistos muitos elementos num desenho meu. São indivíduos, cada qual com sua personalidade, em seu espaço.
Solitários? 
Não penso nisso ao fazer, não acredito que os faço desse modo por "querer" retratar a solidão dos seres. Repito que são as formas normalmente que me estimulam a desenhar. Não me acordo e penso "hoje vou desenhar a solidão ou o amor", não saberia fazer isso. Ter um tema desses e buscar a imagem para retratá-lo seria para mim uma camisa de força. 
Não digo que já não tenha feito algo que remeta ao emocional, a alguma condição ou estado emocional ou fato ocorrido comigo ou outra pessoa, mas não de caso pensado, de modo consciente. A referência aparece às vezes no momento de nomear o desenho. 
Depois de terminado o desenho a história é outra, olho a imagem e nela posso ver mais do linhas e cores e formas. Eu sinto mais do que simplesmente gostar ou não do que desenhei. No entanto não faço segredo de que eles são os elementos mais importantes, pois a interpretação nem sempre posso traduzir em palavras.

segunda-feira, 22 de março de 2010

A arte de compartilhar a arte


Árpád Szenes e Maria Helena Vieira da Silva

Há cinqüenta anos vivo com essa senhora, não me cansei um só minuto e, ao contrário, não se passa um dia sem que me surpreenda e me comova com sua inteligência.

Esta frase não foi dita na época da foto acima, levou um bom tempo para ela ser dita por Árpád sobre Helena durante uma entrevista da jornalista Gardenia Garcia, publicada em 1978 numa antiga revista, Arte hoje (nº 11, pp. 32-35).
Gardenia escreveu que, ao ser apresentado a ela, Szenes lhe disse imaginar que ela passou um dia maravilhoso, por ter estado o tempo todo com sua mulher.
Não sei o que  mais me toca se a frase reproduzida na íntegra ou a sobre o dia da jornalista, tanto que, lendo a frase citada, fiquei a imaginar que tinha lhe atribuído uma beleza que só o tempo nos permite, quando as palavras do outro se transformam para pior ou melhor graças a nosso esquecimento de quais foram exatamente. Elas podem vir à memória misturadas às nossas próprias palavras.
Dois artistas, como disse na postagem anterior. 
A grande pintora portuguesa, naturalizada francesa, Vieira da Silva. Árpád Szenes, pintor húngaro, de menor sucesso e/ou reconhecimento. Pintaram em harmonia, viveram assim. Não posso afirmar que sem alguma discussão, mas, se houve, eles tornaram a se harmonizar, a muito provavelmente se incentivar e a se encantarem um com o outro, um com a arte do outro. Ambos a se admirar um com o outro. Crescendo juntos na vida e na arte.


No atelier



 Vieira da Silva pinta Árpád pintando

Não estou certa ainda de que este seja o título do quadro, não consegui informação exata em blogs como o de Rui Morais de Souza, onde encontrei reproduções do quadro, mas é de Szenes. 
Na verdade recolher informação na internet é correr riscos, acabo de encontrar um foto do quadro acima que provavelmente seja mais fiel ao original, Arpad Szenes, 1942, digo isso sem conhecimento da obra dele, usando minha intuição e outras fotos de obras do pintor.


Seria  bom poder contar com boas imagens no site da Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, no entanto não me foi possível sequer visitá-lo, por algum problema que desconheço. Parece que preferem que se vá pessoalmente vê-las em logo ali em Portugal, é o modo como "protegem" a obra do artista, nos privam dela.
Como muitas vezes, começo apenas com o desejo de partilhar o que sei sobre artistas de que gosto e acabo fazendo críticas e apresentar questões que me preocupam em relação especialmente ao acesso à obra do artista. 
Desta vez mesmo a questão da fidelidade da foto à obra original se coloca. Sei um pouco disso pois andei tendo problemas ao mandar fotografar meus desenhos. Até entendo as limitações e características das câmeras, dos monitores e programas de computador, dos próprios profissionais, do olho humano, mas isso não tem sido suficiente. Apoiados nisso tudo, me parece haver deles um certo descaso, uma falta de curiosidade, de vontade de procurar fotografar obra de arte, que requer um tratamento diferente.
É um assunto espinhoso para mim, uns fotografam com a luz do sol, outros com lâmpadas especiais, todos fazem um trabalho de edição das imagens com o original presente. Não importa, é difícil a comunicação entre nós quase o tempo todo. Um deles me perguntou com base em que eu estava reclamando da foto em relação às cores. A resposta foi em meu desenho, a foto deve reproduzir o desenho obviamente, ou não? 
Já me estendi demais no assunto agora.


Em Paris, 1960

Ainda há muito o que falar de Árpád e Maria Helena. Nesta foto eles já há muito haviam voltado à Europa mas passaram um tempo no Rio de Janeiro na época do nazismo. A história de por que vieram em 1940 é um capítulo à parte da vida deles, no qual não vou me aprofundar. Digo apenas que Szenes era judeu húngaro e que Helena, ao tentar obter cidadania portuguesa de volta, pois há muito vivia na França, teve o pedido negado pelo governo, o que envergonha até hoje os portugueses que tomam conhecimento do fato, pode-se ver algo sobre isso em Vidas Lusófonas.


No Brasil*


Ficaram aqui até 1947. Durante esse tempo, ao que parece, Helena fez várias exposições, influenciaram alguns artistas com sua arte Certamente trouxeram novidades da arte europeia. Szenes deu aulas aqui.
Aqui como lá, eles acolhiam jovens artistas. Carlos Scliar, pintor brasileiro, foi um deles, basta ver no site Pitoresco.
Eu mergulhei tanto em sua história que vou ter de continuar numa próxima postagem. Afinal, felizmente eles tiveram vida longa, como se pode notar na foto de Maria do Carmo Galvão Teles, de 1984.




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* Correção: Não, eles não estão no Brasil nesta foto. Ao consultar o livro Vieira da Silva, de Gisela Rosenthal, verifiquei que se trata do atelier no boulevard Saint-Jacques em Paris, no ano de 1938, ou seja, antes da vinda deles ao País.
Como já disse, é preciso muito cuidado com informações de sites na internet. O velho e bom livro é fonte mais segura. 






domingo, 14 de março de 2010

A arte de compartilhar a arte_Preparação

Desde ontem estou envolvida com uma ideia que só mesmo o fato de ter um blog é que vai me permitir realizá-la. 
Foi tomando corpo rapidamente, me surgiu durante o banho e ali, sob o chuveiro, logo comecei a pensar no texto, nas fotos, nos nomes dos artistas principais... Bem, um deles é quem me move.
Aaah, tem a entrevista que devo localizar porque nela está um pequeno trecho de fala desse pintor que é das mais belas que já soube que alguém emitisse sobre outra pessoa. Não me recordo direito o que ele diz, mas sinto emoção ao pensar que vou colocar aqui e talvez ela ecoe além de mim, ou pelo menos vai ficar guardada neste espaço para eu reler quantas vezes entrar no blog até que, aos poucos, ela vá se transferindo para minha memória e eu saiba.
Hoje fui verificar na internet informações, imagens, vai dar um certo trabalho mas espero que valha a pena. Quero encontrar fotos de quadros que me agradem e sejam significativas dentro da história de cada artista e que eu aprecie. Algumas datas, fatos da vida, alguns, serão importantes citar. 
Este texto fica meio vago de propósito, sei bem o que pretendo fazer, o como ainda tem de ser elaborado, as linhas gerais foram traçadas no final do banho e, tivesse com o que escrever, teria anotado pensamentos, frases imediatamente. Foi necessário cortar o fluxo  das ideias para não perder tudo.
Banho deveria ser para relaxar, meus banhos insistem em ser um intenso trabalho mental, não sei por que não levo um bloco e caneta. Deve ser para tentar mudar isso.


Esta é, ou melhor, esta foto sem a faixa preta será a que vai aparecer quando eu estiver com o texto pronto e tudo o mais escolhido, decidido para a postagem A arte de compartilhar a arte.
Não, não se trata de censura, o recurso é para ficar curioso. Posso adiantar que se trata de artistas de quem quero falar há alguns anos, são dois. E por causa deles vou falar de mais uns uns dois ou quatro outros artistas.
A foto a seguir, você me entende, vai ser a final.

  

quinta-feira, 11 de março de 2010

Mais um desenho meu


 

É de 2007 e o título é Movimento. Aliás, tive de movimentar bastante para colocar a foto aqui. Redução não é mesmo o meu forte. 
Gosto de imagens geométricas, daquelas feitas com régua, compasso, curvas francesas, enfim, toda a parafernália que garanta um certo nível de precisão às linhas traçadas. 
Com ele foi diferente, desenhei à mão livre. 
Claro que não é por isso que saiu assim com um jeito de "em deslocamento". Acho que foi até para fugir um pouco da exatidão, que ela às vezes me atrapalha. Leia-se também "exigência desmedida" de minha parte para comigo mesmo.
Nele gosto principalmente das cores e da linha divisória. 
A inclinação, essa eu acho perturbadora.
O movimento eu devo segui-lo e fazer novos desenhos.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Visitem Tilleke Schwarz e Cathy Cullis


 

Tilleke Schwarz borda obras de arte. Isso, trata-se de um bordado, um desenho bordado.
Ela faz arte com agulhas em vez de lápis e tinta. Bordado não em toalha, pano de prato, vestuário. 
Lembrei dela porque, ao procurar material para o post sobre Leonilson, revi seus bordados. Os dois têm o bordado como meio de expressão artística e não utilitária.
Coloquei o link para a página dela no blog, por isso resolvi fazer o post. 


Não pretendo ficar falando sobre o que Tilleke faz, é uma beleza e é incrível. Na página dela há coisas muito interessantes como um F.A.Q. no qual Tilleke responde a perguntas. 
Ela não é a única artista que atualmente borda assim, há Cathy Cullis, outra grande artista que faz obras de arte que me emocionam, não só bordados

 

Cathy escreve poesias, faz monotipias...




Cliquem nos LINKS e visitem essas duas importantes artistas.  

sábado, 6 de março de 2010

Leonilson


 

Leonilson foi um artista que tive o prazer de descobrir nos anos 1980. Via fotos, depoimentos e textos com críticas sobre sua obra em revistas de arte como o Guia das artes e a Galeria. Acho que não foi nessa época que comecei a ler/ouvir a opinião de Leonilson sobre arte, sobre expor; foi depois de seu falecimento em 1993.
Um dia assisti a um vídeo na TV Cultura, era Com o oceando inteiro para nadar, de Karen Harley. Até agora não consegui rever o vídeo, só há uns trechos à disposição no site do Projeto Leonilson. Gosto do vídeo, há outros vídeos no site mas é preciso ir até o Projeto para ver na íntegra, o que considero muito importante para quem quer conhecer um pouco o artista, embora o principal sejam suas obras.
Os responsáveis devem ter sua justificativa para não permitirem que os vídeos possam ser vistos na internet, mas fico triste, isso poderia divulgar mais a arte de Leonilson, mas as famílias de artistas falecidos fazem o que julgam melhor. 
Aliás, já li e ouvi coisas de espantar sobre esse assunto, se não me engano a família de Alfredo Volpi não permitiu a inclusão de fotos de quadros dele num catálogo de exposição ou foi num livro sobre o artista. Sem falar nos familiares que permitem a reprodução de obras em livros etc. mas cobram altíssimo para isso, tornando a coisa impossível.
Bem, de volta a Leonilson.
A arte dele é de uma poesia como poucas. Os desenhos em nanquim, os bordados, as palavras... sim, Leonilson escrevia. O que sentia, o que pensava da vida, do amor ou não que há na vida. Poesia mesmo. Reflexão. Sua vida.

   

  

  
 
Voilá mon coeur (Here is my heart), c. 1989, bordado e cristais s/feltro
[Frente e verso] 

Pintou e também fez múltiplos em bronze fundido:

 
Sem título, 1990/1991

Nasceu no Ceará, na cidade de Fortaleza em 1957, 
fez arte

 

fez arte 



fez arte 
e faleceu jovem, na cidade de São Paulo em 1993, em consequência de complicações da aids.
A arte permanece vivo Leonilson.

 
Leonilson fotografado por Pablo de Giulio