sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Diálogo




Costumo dizer que o desenho é resultado de um diálogo.
Isso mesmo, não pense que sou eu quem decide tudo num desenho. Os materiais têm suas características, suas necessidades, limites, que podem ser ultrapassados mas não de qualquer jeito.
A imagem tem seu papel essencial no diálogo, que se estabelece  desde o momento em que ela surge em mim. Ainda que ela me venha de um objeto do mundo real, vai ser transformada. Às vezes o que me atrai é um detalhe do objeto, ele vai se transformando dentro. Digo que o diálogo se faz, então, com esse fragmento, uma forma que parece ter um significado próprio, nem sempre traduzível em palavra. 
Dialogo com esses elementos, primeiro com a forma, faço esboços,  pequenos croquis a lápis. Apago, acrescento, olho, penso, converso com eles. Vou tomando decisões durante esse diálogo. Nesse corpo a corpo com a imagem, vejo: o desenho também decide. 
Depois com as cores não é diferente. 
Terminado o esboço final, muitas vezes é aí que vem a luta. Sim, há conflitos na fase dos esboços mas o momento de realizar é a prova de fogo. 
Aquela linha perfeita no esboço ao ser ampliada já não cabe mais ali. As cores escolhidas se repelem. A imagem, os materiais e eu nos desentendemos. 
Nem sempre meu processo criativo foi assim, era muito mais tranquilo quando eu fazia uns desenhos geométricos, dava até para decidir tudo no esboço, as cores se acertavam. Nos últimos anos esse diálogo/conflito vem se tornando frequente, crescente. Não explico, vou aprendendo com ele. Não nego, vou sofrendo com ele. É tenso.
O desenho acima foi um dos mais trabalhados dentro desse processo novo para mim. Com esse título, Dialogado diz tudo. Cheguei a pensar, em certa altura do fazer, que o havia destruído porque não entendia que cores ele pedia, já que claramente não eram mais as do esboço. 
É tenso, não é "tudo alegria" como dizem as pessoas quando ficam sabendo que faço arte. 
Esse desenho levou um tempo para sair do conflito, que permaneceu ainda depois de terminado.
Só assinei quando a imagem, os materiais e eu fizemos o acordo de paz.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Pablo



Picasso. O giz pastel oleoso Sennelier foi criado para Pablo Picasso. Sim, o grande pintor. Ao que parece, não só para ele, já que encontrei uma história do pastel oleoso em que ele e Henri Goetz, também artista, é que insistiram com o senhor Sennelier para fazer os giz.
Ambos pretendiam obter um giz à base de óleo que dispensasse a preparação da tela (imprimação com gesso e cola animal). Eles desejaram isso em 1947 e dois anos depois, com a ajuda dos artistas, Sennelier criou o primeiro giz pastel oleoso com qualidade profissional. *
Aqui vale notar a cooperação entre os artistas e a disposição de Sennelier em aceitar o desafio lançado pelos dois. Adoro esse tipo de cooperação, é isso que faz a diferença na vida das pessoas.
O quadro reproduzido acima é a obra que deu início a um desejo meu. 
Ganhei de uma amiga, Marise, Picasso's Picassos, livro com obras que Picasso havia mantido consigo. Nele vi Femme assise devant la fenêtre (Mulher sentada diante da janela) e desde esse dia não tive mais sossego, porque logo abaixo da foto, além da data, 11.3.1937, e das medidas em polegadas, havia a informação "Pastel on canvas" (pastel sobre tela).
Na época eu desenhava com pastel seco e, de tão impressionada com aquilo, fui testar  esse pastel sobre tela. O resultado evidentemente nem chegou perto. Isso foi por volta de 1987. Eu não gostava de giz pastel oleoso, com suas cores que achava serem muito fortes para meu gosto. Estranho é que não passou pela minha cabeça testar o pastel oleoso sobre tela; também, só bem depois é que entrei em contato com ele.

Observando meus desenhos, fica evidente que, ao começar a usar, não parei mais. E essa é uma outra história, que depois eu conto.



*Fonte: Oil Pastel Society


quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Senhor Sennelier




Vivia dizendo "Quando  Sennelier chegar...", como se se tratasse de alguém, mas é uma marca de giz pastel oleoso francês de grande qualidade.
Por que ele? Qualidade, busco qualidade sempre. Materiais importados são mais caros, mas minha arte merece cada centavo investido nesses materiais.
A imagem é resultado de vários fatores, a imagem que obtenho é uma conversa entre mim e os materiais. O giz de cera tem cores bonitas, pois tem, mas o efeito certamente difere do conseguido com um giz pastel, mesmo de qualidade não muito boa, há nele uma quantidade menor de cera e algum óleo, isso faz a diferença. E mais, sua resistência à luz também é maior. Não dá para substituir um pelo outro.
(Desconheço um giz de cera com características boas quando se pensa em conservação da obra feita. Isso se deve ao uso de pigmentos de qualidade inferior. Até vale uma pesquisa séria para verificar se não estou enganada.)
Finalmente ele chegou!
A espera durou década, uma ou mais um pouco, para eu ter um pastel oleoso com o Sennelier, que tem um história bonita, que eu conto outra hora, mas, já adianto, tem a ver com Pablo Picasso.
E já aviso que não é por esse fato meramente que  o Sennelier se tornou um objeto de desejo para mim.


segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Ainda sem título



 


Manter o blog atualizado é um desafio para mim, por enquanto.
Este aí é mais um desenho de 2008. Ainda não coloquei um título. Ele foi realizado pouco depois do Tenda
Gosto muito de ambos. Eles são casas, este é um tema recorrente em minha arte. A casa como abrigo, como espaço a ser ocupado com aquilo que é importante para mim; lugar de compartilhar a vida com outras pessoas; local de encontro, de reflexão, trabalho. 
A casa como corpo, na psicologia jungiana, me parece que é esse um significado para casa nos sonhos.
A forma casa me interessa muito. Ela permite uma infinidade de variações. 
Tendas são habitações com um formato que pede desenho. 
Lugares de morar são ricos demais para quem lida com arte ou não. Há casas que são obras de arte de arquitetos.
Casas, casas, tendas, fendas nas rochas também abrigam seres.

domingo, 10 de janeiro de 2010

From Flickr





Já houve época em que a linha a grafite era coberta totalmente pela cor do giz pastel  oleoso. Eu a recusava como uma intrusa.
Vai entender, depois de fazer alguns esboços, pequenos desenhos para experimentar cores e imagens, em 2006, isso mudou radicalmente. Notei uma beleza na linha que antes não me atraía. Passei a procurar a transparência das cores para que o grafite viesse à tona.
Aqui ele, além de aparente, se mistura ao giz para formar outra tinta para meu encantamento e paixão.  
Desenhado faz  parte da série Variações, desenhos todos feitos usando o mesmo molde vazado, mas cada um com sua personalidade.

In this image I show my passion for the line and the pencil. In 2006 the line appears as a important element in my art. Before it was only for sketches. I fastly covered the pencil lines with oil pastel colors. Now the pencil is essential to create my images. Pencil gives them lines and divide spaces with the oil pastel in harmony.
 

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Divan from Flickr




A reprodução deste desenho está também no Flickr, mas eu a coloco aqui porque posso  escrever mais do que o título, a técnica usada e outras informações.  E gosto desse desenho, ele merece um texto.

O Divan(eio) é um desenho criado em 2006 com base numa pequena pintura sem título realizada em 1998.
Passei algum tempo tentando localizá-la, embora andasse fazendo esboços de divãs. Divã, por ter uma forma que me agrada e, claro, há Freud, a psicanálise. Divã também por permitir que experimentasse dizer algo sobre o que é a psicoterapia para mim, o que é a busca de autoconhecimento.
Só sosseguei ao encontrar a tal pintura, havia nela uma forma que me ocupava os olhos mesmo não lembrando direito o que era. A pintura se tornou uma referência obrigatória para mim.
Enquanto desenho, não tenho em mente uma mensagem ou um significado que quem vai ver a imagem tenha de descobrir . A explicação dada aqui surgiu depois, tem a ver com minha história de vida, com a expectadora que me torno depois  da obra terminada.
No papel, a imagem vai tomando corpo, é com formas e cores que eu lido, dialogo mais diretamente.
O título é um jogo de palavras. Fiz algumas considerações ortográficas, só não me ocupei em seguir a norma (divã).  O título não surgiu ao mesmo tempo que a imagem.

The title is Couch in English, because in Portuguese  I can make a little game with the words divã (couch) and devaneio (day-dream), mixing the two: Divan(eio). But the image is  the most important here. There's a couch and a green plant grows from it. I do a clear reference to psycoanalisis/psychotherapy and its possible benefits.  But when drawing I thought in the forms of the couch, in colors and lines. The plant I don't remember the exact moment it appeared. But I'm sure that it was after I have put the seeds on the couch.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Osram Ne Nsoromma




Por enquanto no lugar de uma foto minha o que você vai ver é este símbolo. Trata-se de Osram Ne Nsoromma, A Lua e a Estrela, que significa amor,  fé e  harmonia. 
Não sou uma entendida mas sei que esse é um símbolo Adinkra, como centenas de outros usados para estampar tecidos na África inicialmente pelo povo ashanti de Gana.
Não, não sou de Gana, sou afro-descendente, como atualmente é chamado quem é negro, e não sei de que povo em África descendo. Mas o fato de ser um símbolo africano ainda não é por isso que ele foi parar no blog e sim porque há anos uso brincos com uma lua e uma estrela sem saber o que siginificavam, ou mesmo se significam alguma coisa além de estarem nos meus brincos favoritos. Quero dizer que o motivo é por ele fazer parte da minha vida.
Numa andança pelos sites à procura não sei de qual informação, eu me deparei com uma lista desses símbolos e meus olhar foram atraídos para este. Fui logo saber o significado, o nome, que é em akan, língua dos ashanti.
Há ainda outros significados para o símbolo, em algum texto li que significa cooperação. Acho essa atividade de cooperar uma das mais importantes para a vida.
Ele também está associado a um provérbio que diz:  "'Kyekye pe aware' (The North Star has a deep love for marriage. She is always in the sky waiting for the return of the moon, her husband.)"*

* Em português fica um pouco estranha a frase porque "lua" é palavra feminina! A Estrela do Norte tem um profundo amor pelo casamento. Ela está sempre no céu à espera do retorno da lua, seu marido.  A cooperação neste caso se dá entre um homem e uma mulher.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

De mudança



É o primeiro dia útil de 2010.
Vou começar a fazer o transporte de algumas fotos de desenhos meus que estão no fotolog.
Quero manter a página naquele site mas aqui posso falar um pouco desses desenhos, que foram feitos num momento bem especial de minha vida. Alguns têm histórias em que estiveram envolvidos, talvez valha a pena contar, porque revelam muito de como a imagem  toca as pessoas e, uma vez que  sou eu quem as realizo, isso leva a um reflexão sobre a maneira de encarar a receptividade ou não do que faço. Da importância da comunicação que se estabelece em todas as situações (de agrado ou desagrado) e do papel de quem faz e de quem vê arte.
Os desenhos de que falo são de 2000, em giz pastel oleoso sobre papel Fabriano 5 GF, com  dimensões de 5X8 e de 5X4 cm. Acima estão dois dos menores. Eles não têm títulos, depois explico por quê.
O link do fotolog é www.fotolog.com/margaledora