sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Desapego

 
Asas (Desapego), 2006, giz pastel oleoso s/papel

Não sei se já disse mas, quando termino um desenho, passo a ser uma expectadora. Olho para ele como se não fosse eu quem fez. Isso tem muitas vezes como consequência o desejo de posse.
Outra pessoa pode desejá-lo também, então é preciso pensar nisso, na venda.
Em alguns casos se dá com facilidade. Não tenho esse sentimento de guardar tudo o que desenho, não faria sentido, não haveria espaço nem condições adequadas para tanto.
Asas é um desses desenhos que eu favoritei logo depois de terminado. Foi imediata a nossa comunicação. Há efeitos nele de que gosto demais, obtidos pela interação bonita do grafite com o giz. O diálogo se completou no momento em que afastei o giz preto do papel dando como encerrado o fundo.
Ele pertence à serie dos Duetos, que tem desenhos compostos de duas figuras mais uma central, esta servindo de detalhe. As duas figuras de Asas são feitas a partir de esboços de 2003. A central, creio, surgiu durante o processo.
Coloquei o nome de Asas porque parecem asas colocadas cada uma em seu suporte. O que me importa nele são as formas e as cores, confesso que o nome foi mais para poder me referir a ele. Alguns artistas não nomeam suas obras, alguns acham que já determina a leitura e isso não é bom. 
Nomeio, mas quem vê está livre para interpretar, para gostar ou não do que desenho. Isso não é uma autorização, não tenho intenção de delimitar a visão de ninguém, acho difícil tentar isso porque a pessoa vê a partir de sua cultura, seu modo de encarar a vida, elementos que compõem a bagagem cultural e emocional da pessoa. É com ela que a pessoa vê e sente.
(Desapego). O subtítulo surgiu pouco depois de eu vir a saber que havia um interessado nele. 
Foi necessário o desapego. 
Asas vendidas.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Louise Bourgeois



Ela é bárbara! Esta foto foi tirada por Robert Mapplethorpe, fotógrafo polêmico de que um dia eu falo. Bem, ele fotografava homens nus. Belas fotos... mas logo de homem? Eu não vejo problema mas havia quem criticasse. Mulher nua pode, homem não. Porque pênis não pode aparecer assim, explícito.
Debaixo do braço de Louise pode. A artista conta em seu livro Destruição do pai, desconstrução do pai como foi a sessão para esta foto em que ela exibe um de seus pênis, ou melhor, esta escultura é Fillette, de 1968.
Há várias interpretações para ela. Naturalmente que não escapa a uma leitura freudiana sobre a inveja do pênis pela mulher. Não vou enveredar por essa discussão agora e, mais que isso, prefiro reler o que a artista tem a dizer sobre a escultura nas páginas 198 e especialmente a 202 do livro citado.
Gosto de sua arte e do que escreve e diz. Concordo com ela quando diz que ser artista é um privilégio e uma maldição. De novo digo que ser artista não é só alegria, não é lazer, é bem mais complexo; mas não tenham medo, não falo em nome de todos os artistas, cada um tem seu processo criativo e tem uma opinião sobre o que significa fazer arte e ser artista. Para ela é uma luta, "um campo de batalha".

 

Outra consideração feita por Louise que me agrada: "Arte é uma garantia de sanidade", parece que ela considera que esta é a frase mais importante que já disse. 
Louise faz obras com conteúdos autobiográficos, como deixa claro o título do livro citado em que a figura do pai está presente. Creio que deva dizer que ela faz uma catarse, isso certamente mantém a sanidade, embora o que ela diz ao afirmar essa garantia é mais profundo que isso.

Acabo de encontrar mais uma escultura

 
Topiary, 2005, mármore rosa

Vibro com seus desenhos e gravuras. Ela faz uns guaches avermelhados

 
Femme, 2007, guache sobre papel

Adoro essa cor, já fiz desenhos com uma semelhante e uso sempre que sinto que é melhor do que usar o preto ou o sépia para o desenho. As duas obras, Femme e Topiary, fazem parte de uma série chamada Nature Study

Uma gravura em metal 

 Spiral woman, 2003, água forte e ponta seca

Tem um fato que ela conisdera importante que é ter podido fazer arte em paz por muito tempo. Creio que ela disse isso porque por algum tempo não expunha nem tinha necessidade de colocar à venda  no início de sua vida artística e pôde se desenvolver sem as pressões do mercado.

Paro por aqui, a todo instante me vem mais uma imagem, uma foto de obra, uma frase dela...
Espero não ter dito nada equivocado sobre o que já li a respeito dela, pois foi a um certo tempo.


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Esboços 2_experimentação


 

Ontem fiz teste de cor no papel.   Notei que na parte central caíam bem umas linhas, uma divindindo ao meio. Há pouco de volta ao esboço comecei a testar isso também, não só as cores. 
Este aí é o primeiro.  O vermelho não é  mais o profundo e sim o veneziano. Escuro. Estou habituada com vermelhos mais escuros, tenho dificuldade de mudar no momento. Acho isso natural, não um problema.
Estou com um azul me transitando na mente. Tenho, na verdade, um cinza azulado de que gosto um bocado e achei de experimentá-lo no lugar do cinza esverdeado. Eu, então, fiz mudanças em outras coisas.

 

 

Estes esboços me deram a ideia de chamar o desenho de Arco com árvore, não sei se vai ficar. Eu os acho muito cheios de linhas curvas, pode ser que eu altere mais. Talvez coloque outra coisa sob o arco ou simplesmente deixe as linhas do primeiro esboço.
Vou ver. Até porque as cores dos giz são um pouco diferentes, mesmo eu usando a cartela "digital" de cores do Sennelier. Tudo conta quando se lida com computador, a resolução do monitor, do desenho, por isso é no mundo real que vou saber.


terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Georgia O'Keeffe


 

Esta é uma foto entre as inúmeras tiradas por Alfred Stieglitz, seu marido. Georgia O'Keeffe foi sua musa. Tiveram um belo relacionamento, mas não é só para falar da modelo de Stieglitz que escrevo, e sim da artista, a pintora que ela foi.


Andando por uma livraria, vi um livro em que aparecia o nome dela escrito na lombada, The art and life of Georgia O'Keeffe, de Jan Garden Castro. 
Tirei da estante. Na capa, Georgia, com sua força; na contracapa, flor de uma beleza sem igual. Não me recordo mas creio que já havia visto alguma reprodução de obra dela antes, mas o livro tornou a artista definitivamente importante para mim.
 



Há muita informação sobre Georgia e sua obra em livros e na internet, então me restrinjo ao papel que tem em minha vida. 
Flores, vemos muitas por aí, florões, tentativas tristes às vezes de reproduzir o que se vê. Georgia, as flores de O'Keeffe não se parecem em nada com essas que descrevo, são imateriais, ela captou o espírito das flores com os olhos de sua alma.
Cores intensas, sim. Porém a transparência dá o toque necessário para que não sobrecarregue o olhar de quem está diante da obra. 
[Digo isso e me lembro que jamais estive perto de um quadro dela. As reproduções de modo geral podem alterar e muito o que seja na realidade a pintura a óleo sobre tela; mesmo assim creio na beleza específica dessas obras com flores.]
A arquitetura chamava sua atenção, é um tema que me interessa. 






Volto a falar de Stieglitz agora.  Sua importância vai muito além do que vou falar a seguir, pois foi grande fotógrafo: tenho predileção pelas fotos que fez das mãos de Georgia.




domingo, 7 de fevereiro de 2010

Vermelhos





 Estes meus desenhos são de 2006. Foram feitos a partir de um molde vazado. Variações, a série a que pertencem.
Olha o grafite como faz toda a diferença! Não sei como pude evitar sua presença nos desenhos por tantos anos. 
O primeiro, A parte incontroversa, quando o julguei terminado, foi rejeitado. Por mim, não tenha dúvida. 
Fui convencida a emoldurá-lo, a inclui-lo entre os quadros para uma exposição que acabou não se realizando. Mas nossa conversa ainda não tinha terminado. Levei um tempo considerável para entendê-lo. 
Houve um choque de cores bem naquela parte escura. Pretendia uma cor e não ficou boa. O giz pastel oleoso não é muito permissivo com relação ao que se pode fazer com uma borracha; precisei raspar a tinta. Sobraram vestígios e a nova cor não me agradou.
Digamos, uma concessão foi necessária nesse caso. 
O outro desenho eu costumo me referir a ele como Deixando o modelo, embora ambos sejam exemplos do momento em que me vi com a necessidade de parar de seguir o molde vazado à risca. É possível ver ainda a linha do molde neles, ela faz parte dos desenhos. 
Houve necessidade de rompimento tanto por uma questão gráfica, afinal aquela obrigatoriedade foi perdendo o sentido, como eu mesma passei a não querer segui-la. 
Coisas da arte.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Rosana Paulino


 
  
Para mim, uma artista e ponto final. 
Brasileira, negra. Rosana Paulino às vezes é apresentada dessa maneira. Acabo de ver num site sobre sua obra, ali dizem que a cor de sua pele ser negra é o motivo pelo qual sua arte trata da questão negra e especificamente do que diz respeito à mulher negra. Ela diz que essa é sua questão em seu blog, mas não é só isso.





É parte da motivação dela, creio eu. É bom frisar que ela faz arte. É o que disse de Siron. Rosana faz arte também com caráter social, de denúncia. Com arte, com técnica, com habilidade e sensibilidade. É arte! 
Faz gravura em metal, desenha, faz monotipia, cerâmica, faz instalações. Rosana é artista plástica e educadora. 
Gosto muito da peça em cerâmica que ela segura na foto. É uma das muitas que ela fez para a série que chamou de Tecelãs.
Rosana tem obras que me atraem, especialmente as de cerâmica e os desenhos, leia-se "obras sobre papel". 

 

 
Volto a repetir, Rosana Paulino é uma artista envolvida com questões mais profundas do que a superfície de sua pele pode supor.

Correção

Em algumas postagens futuras vou fazer correções. Ao falar sobre Pablo Picasso, Iberê Camargo e Siron Franco me dei conta de que não falo das minhas artistas queridas. Isso parece como em todo o mundo da arte, em que homens artistas têm uma visibilidade muito maior.
Na verdade, não se trata exatamente de corrigir um erro, afinal, não é errado gostar e admirar artistas homens mas quero que elas, as artistas, venham fazer parte desse espaço onde o importante é a arte.
Não vou fazer postagens de todas as que admiro, algumas vão ser citadas através de links apenas. São muitas, é apenas por isso.
Vou começar com uma artista brasileira, Rosana Paulino.

Siron Franco



Mais um artista que admiro. 
Siron Franco.
É um artista que, com muita propiedade e  qualidade, faz muitas vezes uma arte com cunho explicitamente social, de denúncia, de refelxão pública da realidade repetidamente injusta no País.
Admiro isso porque não considero que a arte deva ter obrigatoriamente que fazer essa abordagem social, porque pode cair numa cilada e se tornar uma ilustração medíocre da realidade. Ele o faz como homem e artista. 
Encontrei um site com imagens de suas obras e adicionei aos links, e aqui um vídeo com ele em ação. Pintando um quadro dos grandes. 
Bom, vê-lo atacar a tela com cor e pincel e mesmo com o tubo de tinta. 
É a primeira parte do vídeo que está aqui, não é um dos melhores, quem o fez se perdeu um pouco ao permanecer muito tempo numa obra de Siron, mas vale a pena ver e ouvir o artista. Palavras de Siron sobre seu processo criativo e mais:


terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Esboços

 

Esboços para decidir as cores do desenho.
Tudo por causa do vermelho. Há anos esperava encontrar um vermelho adequado para dar vazão a um desejo de vermelho. 
Não é bem esses dos esboços que mostro aqui. É o Red Deep do giz pastel oleoso da Sennelier.
Vou fazer mais esboços, não estou satisfeita com estes dois. 
Estou aceitando o desafio de ver onde colocar meu vermelho. Sem ele não vou ficar.
É uma decisão inabalável.
Anoto informações para mim mesma. 
Isso tudo pode ser mudado no momento de colocar no papel definitivo, mas resolvi fazer esse exercício prévio para aquecer as ideias. Este ano quero que seja de muitos desenhos. 
O desenho acima é antigo, está esperando cor faz tempo.
Eu o reencontrei e ele ficou habitando minha imaginação, pedindo papel grande. Mas estou enroscada com as cores, como se pode notar.
Temos de chegar a  um consenso, o desenho, as cores, os materiais e eu.
e volto a fazer esboços.


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Iberê em 55 segundos


Exigente? Não. Artista, artista, artista, pintor, gravador, Iberê Camargo.
A arte dele pedia boa tinta, de qualidade, a melhor (im)possível. A vida dele era aquilo de pintar por um mundaréu de horas, à exaustão.
A obra exigia tinta de verdade, com relação a pigmentos, resistência à luz. A busca pela permanência da obra já que a de si mesmo sabia inútil tentar alcançar.
Era um homem, um artista, um mestre.
Se hoje tenho para mim que os materiais precisam ser de alta qualidade, se sinto a arte com uma responsabilidade, com seriedade, com certa característica de sagrada, isso é em parte "herdada" de Iberê. Não tenho a pretensão de me colocar ao lado ou nas proximidades dele, Iberê é enorme.
Na quarta passada, assisti a um vídeo em que se vê e ouve Iberê. Ele pinta e despinta um rosto. A modelo em sua mirada.
As cores, o fazer, suas palavras: