Estive no SESC aqui de Campinas na sexta-feira passada.
Meu único interesse era me inscrever num curso de Criação de Blogs.
Estava muito frio, um vento forte, mas, ao sair, já inscrita, decidi ir ao Galpão Multiuso que fica pertinho, mas com outra preocupação minha, queria uma bolsinha para carregar meus cabos de smartphone, lá às vezes tem algum artesanato ou coisa assim.
Não achei.
Olhei bloquinhos, livros, CDs. Meus olhos, de vez em quando, iam mais além da loja
e voltavam.
Sabia dos vídeos, sabia do Festival de Arte Contemporânea SESC Videobrasil há um bom tempo, desde o mês anterior e, naquele momento, já estava com o livreto do festival nas mãos e, vendo uma fileira de televisores de plasma, mas não ia até lá, onde via pessoas falando.
Demorei, mas não resisti.
Era um ambiente com luz baixa, paredes em cinza escuro, claro mesmo somente sobre a mesa ampla, com livros e outros informativos sobre o Festival, como se pode ver na fotografia acima.
Vídeos legendados em português. Ainda assim usei os fones de ouvido disponíveis em ganchos logo abaixo das tevês. Desenrolei o cabo, fones devidamente colocados e fiquei ali ouvindo Basir Mahmood.
Achei que ele era indiano. Equívoco: é um artista do Paquistão. O nome dele era uma pista, no entanto não me dei conta.
Ele foi meu primeiro escolhido graças ao equívoco, mas também por eu ver que se tratava de um vídeo – bem, pensava que haveria outros suportes além do vídeo, não me informei antes, apenas dei uns passos e ali estava eu em plena exposição.
Na obra de Mahamood My Father (2010), vi uma pessoa idosa tentando enfiar linha numa agulha. Era um homem de barbas brancas
Naquela seção de vídeos, os artistas dão seu depoimento sobre a vida, sobre a obra, percebi isso depois, eu estava preocupada em não me demorar, lá fora estava bem frio e não fui devidamente agasalhada para enfrentar ventania.
Me dirigindo para essa área a que me refiro, fiquei um pouco em frente ao vídeo de uma moça oriental e li na legenda que se… ela não teria feito uma escolha. Parecia triste, nervosa, as mãos denunciavam o nervosismo. Achei podia ser desinteressante saber sobre seu problema, como muitas pessoas que fogem de gente com problemas, embora eu evite fazer isso. Não li o texto com informações preso à parede relativo ao vídeo e segui para o vídeo do artista que não é indiano.
Depois, o segundo artista a quem ouvi foi Lucforsther Diop, nome que estou lendo agora no livreto do festival, porque lá não cheguei a ler e talvez não me lembrasse de qualquer forma agora, menos ainda da grafia de seu nome. Ele é de Camarões, neste momento só me lembrava que era um país da África e que ele vive na Europa. Recorro ao livreto, leio Holanda.
Seu vídeo nele vi sua própria mão. Apenas os dedos se movendo, com a palma dela voltada para o espectador
A descrição que está no livreto me faz pensar na necessidade de tempo para entender, se relacionar com uma obra que parece banal, mas não é, We Are One fala das relações humanas. Lembro me ouvi-lo mencionar a resistência que tem para viver na Europa e a que teria ou teve, tem quando está no seu país. Maior agora que é um estrangeiro.
Não é incomum ouvir falar nas dificuldades de uma pessoa em se adaptar num lugar que não é o de seu nascimento, ou não, mas um homem negro de África na Europa é bem difícil mesmo.
Confesso que a falta de tempo não me permitiu interagir com a obra dele e ver nos movimentos de seus dedos aquilo que ele quer nos fazer pensar.
Dando mais uns passos entrei na área onde estavam sendo exibidos os vídeos de cada um dos artistas, que é preciso que se diga que tiveram suas obras premiadas ou que receberam menção honrosa neste festival. Aliás, o que veio do festival para Campinas é uma parte itinerante, houve muito mais artistas participando, aqui veio uma amostra.
Por incrível que pareça a obra que me pegou, me fez esquecer a passagem do tempo, o vento lá fora foi a de Sherman Ong, cujo nome me esqueci, porque o tinha lido ao sair da sala onde assisti a uma parte de Motherland, sua obra, e foi no sábado pela manhã que li no livreto, enquanto estava no mercado aguardando a chegada de minha mãe. Atualmente com o smartphone podemos pesquisar nos lugares mais inusitados, como eu, em pé, diante do carrinho de mercado, fiz com ansiedade, logo vão saber por que razão.
Estou chateada por não ter ido antes ao Festival, não somente por, de certa forma perder de ver com calma os vídeos, os depoimentos, mas por não ter avisado no blog em tempo de mais pessoas irem até o SESC para isso. Terminou no domingo!
Eu teria recomendado com muito gosto que visitassem, ainda recomendo que sigam os liks que vou compartilhar no final do texto para quem ainda tiver interesse de assistir tanto aos depoimentos dos artistas quanto os vídeos citados e outros. É uma recomendação envergonhada, mas recomendo.
Claro que podemos recuperar informações, mesmo os vídeos na internet, mas ficam faltando o ambiente, o tipo de luz, a maneira como as obras foram apresentadas no espaço do SESC. Tudo isso trouxe elementos especiais, condições que não podemos ter em casa diante da tela do monitor ou do notebook, do tablet, muito menos de um smartphone.
Isso vai ficar claro daqui a pouco.